Eu sou parte de uma equipe de cineastas que acreditam no poder dos filmes para mudar o mundo. Com esta missão em mente, a cada filme que começamos nós nos perguntamos: como este tópico pode ser abordado de forma a tornar o filme uma ferramenta útil para a sociedade?
Quando fomos convidados para fazer um filme sobre o desenvolvimento na primeira infância pela Fundação Bernard van Leer, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e Instituto Alana, num primeiro momento nos sentimos honrados, para logo em seguida perceber a enorme responsabilidade que tínhamos pela frente.
Começamos por passar um longo tempo estudando e pesquisando, para entender qual ângulo o filme deveria ter. Ficamos intrigados ao ler como as crianças não são determinadas apenas por seus genes, mas pela interação entre a genética e o ambiente em que elas crescem. Quais são os elementos mais importantes do meio ambiente, e as interações das crianças com ele? As pessoas sabem e valorizam isso?
Começamos então a escrever e a realizar o filme com um foco na importância das relações de amor entre bebês e mães, pais, irmãos, professores, avós e cuidadores – e as relações entre crianças e natureza, crianças e brincar, crianças e as histórias que são contadas a elas.
Por três anos viajamos a todos os lugares: quatro continentes e nove países. Em todos os lugares encontramos pais que querem o mesmo para seus filhos: uma mãe pobre das favelas no Brasil, e a supermodelo Gisele Bündchen, tinham a mesma e exata resposta à nossa pergunta – “meu sonho para os meus filhos é que suas vozes sejam ouvidas”. A diferença reside nas condições das famílias, que podem garantir o ambiente propício para que seus filhos possam prosperar.
Ao fazer este filme, eu pude entender o quão importante são os primeiros anos de vida para uma criança. Muitas pessoas se preocupam se seus filhos farão uma faculdade ou conseguirão um emprego. O que nós realmente deveríamos focar é: as crianças estão sendo abraçadas, estão brincando livremente, estão ouvindo histórias? Elas estão sendo alimentadas em um ambiente seguro? Isso é o que torna adultos saudáveis, criativos e capazes – que, por sua vez, constroem uma grande sociedade.
O filme ‘O Começo da Vida’ já teve um enorme impacto desde seu lançamento em maio de 2016. Foi exibido com casa cheia nas Nações Unidas em Nova York, foi transmitido gratuitamente 6.000 vezes em 50 países através do site www.videocamp.com, tornou-se o documentário mais visto nos cinemas no Brasil, e foi adotado pelo UNICEF para sua campanha global de Desenvolvimento na Primeira Infância (ECD – Early Chaildhood Development) em 2017. Caso você queira ver o filme, você pode encontrá-lo no Netflix em mais de 190 países.
Diretora de cinema e escritora, Estela Renner também é cofundadora da Maria Farinha Filmes.